Juntos de dia, separados à noite

Se é o seu caso saiba que não é caso único e o que fazer para cuidar da saúde sexual da relação.
12/01/2025
4 mins read

Há casais que só conseguem manter a relação de boa saúde ao dormir em quartos separados. O assunto é tabu, mas horários trocados ou perturbações do sono podem levar cada um a dormir na sua cama.

Ter horários distintos para adormecer e acordar, gostar de ler ou ver televisão na cama, ter preferência por colchões diferentes, ter perturbações do sono, síndrome das pernas inquietas ou simplesmente necessidade do próprio espaço para conseguir um sono reparador.

Os motivos que levam um casal a dormir em camas ou quartos separados, alguns dias da semana ou de forma permanente são vários, mas o tema ainda é tabu e são poucos os que falam abertamente no assunto.

“Ainda há alguma vergonha pelos preconceitos e ideias negativas que estão associados”, refere a psicóloga clínica Filipa Jardim Silva. Ainda assim, na prática, “a dinâmica de muitos casais que dormem na mesma cama é idêntica à de casais que dormem em quartos separados, no sentido em que, na hora de deitar, apenas dormem ou, existindo alguma intimidade, esta nem sempre ocorre no quarto de dormir”.

“Muitos adultos, sobretudo com filhos ou profissões exigentes, desligam quando entram no quarto e vislumbram a cama, pelo que o desejo sexual fica à porta muitos dos dias. Deste ponto de vista, na prática, dois adultos dormirem na mesma cama afastados, sem qualquer contacto, e dormirem em quartos distintos pode não constituir uma diferença assim tão grande”.

A importância do sono reparador

Se um descanso reparador e revigorante é importante para a regulação emocional e bem-estar individual, “quando um dos elementos do casal não dorme bem, a reatividade tem tendência a ser maior e a capacidade de escuta ativa menor. Assim, situações simples da rotina diária podem despoletar conflitos em maior escala”, lembra a psicóloga.

“Com a epidemia de distúrbios de sono a que se tem vindo a assistir, e todas as consequências para a saúde física e psicológica, tornou-se imperativo cuidar da qualidade do descanso, priorizando a higiene do sono e fatores protetores de noites reparadoras. Nesse sentido, mais profissionais de saúde têm tido a iniciativa de sugerir aos pacientes a possibilidade de experimentarem dormir em camas e quartos separados, alguns dias da semana, em prol de um maior bem-estar individual e, à partida, um maior equilíbrio no casal”.

Saúde conjugal

Aos poucos tem-se “desmistificado os casais dormirem em quartos diferentes, o que abre a possibilidade a que mais casais escolham, em liberdade e consciência, aquilo que sentem que funciona melhor, considerando a sua dinâmica. Pode ser um tema difícil de introduzir, pelas ideias negativas associadas, mas poderá contribuir de forma positiva para a saúde conjugal”, refere Filipa Jardim Silva.

Para alguns casais, “dormir separados alguns dias da semana permite um sono mais revigorante e um acréscimo de saudades, que se acumulam para o fim-de-semana”, lembra a psicóloga, que ainda assim alerta para o facto de poder gerar ou aumentar o distanciamento se nunca dormirem em conjunto, nem aos fins-de-semana ou nas férias.

“Neste caso devem assegurar momentos a dois, com qualidade e disponibilidade física e mental. Podem trocar afeto físico, com pequenos gestos que traduzam amor e respeito, seja ao pequeno-almoço antes de saírem para o trabalho, ou quando se reencontram ao fim do dia”.

Como puxar o assunto

Esta é uma das questões que desperta maiores preocupações: como abordar o assunto sem discussões? Para Filipa Jardim Silva “é importante que haja consenso, mesmo que com níveis de satisfação distintos. Ambos precisam sentir-se disponíveis para experimentar esta solução e perspetivar os ganhos. A questão deve ser abordada num tom sereno, e não acusatório ou zangado, para que a proposta não seja associada a rutura ou crise conjugal”.

No entanto, quando um dos elementos do casal não aceita a proposta é necessário apostar mais no diálogo, para que “ambas as partes possam ultrapassar as suas diferenças e chegar a um ponto de concordância. Alguns casais recorrem a um terapeuta conjugal para conseguir um espaço neutro, onde a comunicação poderá ser trabalhada e as diferenças exploradas”.

E a decisão também deve ser partilhada com os filhos. “De acordo com a idade da criança, a decisão deve ser transmitida de forma natural, explicando o que vai acontecer, transmitindo segurança às crianças e dando espaço a que possam fazer perguntas”, explica.

E o sexo?

Na opinião da sexóloga Vânia Beliz, “o quarto partilhado sempre foi sinónimo de união e muitas vezes associamos a separação de quartos à separação dos casais. Se a motivação para dormir noutro espaço não for relacional, acredito que não haja motivos para consequências na vida sexual. O casal pode reencontrar-se sempre que o deseje”.

E não é por já não dormirem ‘em conchinha’ que o desejo acaba. “Com o passar do tempo, alguns casais deixam de dormir próximos e aconchegados. Não há problema, se estiverem bem com isso. As relações mudam e não é por já não dormirem próximos que deixaram de desejar o outro. Muitas vezes, se antes até dormiam com pouca roupa ou nenhuma, com o passar dos anos privilegia-se o conforto”.

Na perspetiva de Filipa Jardim Silva, “cuidar da saúde sexual do casal, manifestando desejo pelo companheiro e criando oportunidades de intimidade, é importante para manter a proximidade. Quando o quarto se transforma num local de discussão por desencontros nos padrões de sono, não será palco nem de descanso, nem de vida sexual”.

Querida(o) temos de falar

Filipa Jardim Silva ensina a abordar o assunto sem ferir suscetibilidades.

 * “Sinto que temos padrões de sono distintos e que isso está a afetar a qualidade do nosso descanso”.
 * “Será que estarias disponível para experimentar uma dinâmica diferente, que pode funcionar melhor para nós? A hipótese de dormirmos em camas e quartos separados, algumas noites por semana, seria uma possibilidade?”
 * “A minha sugestão só tem como objetivo cuidar do nosso descanso e da nossa relação. Podíamos experimentar e depois, em conjunto, fazíamos um balanço e víamos se era algo a manter ou não”.

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