Comida, álcool, jogo: será binge ou adição?

Aprende a reconhecer quando estás a passar dos limites e como ultrapassar o que pode ser um transtorno compulsivo.
12/01/2025
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Usamos o termo binge quando alguém come demasiado, bebe demasiado ou joga demasiado. Aprende a reconhecer quando estás a passar dos limites e como ultrapassar o que pode ser um transtorno compulsivo.

Binge, ou transtorno compulsivo, significa um impulso ou desejo muito forte para realizar uma ação que provoca prazer imediato, mas posteriormente faz sentir culpa e mal-estar.

É um comportamento excessivo, num curto período de tempo, acompanhado por uma sensação de perda de controle sobre a quantidade ou qualidade do que se está a fazer, sendo prejudicial e desnecessário para quem o faz, sem levar a um prazer ou a uma recompensa verdadeira. Pode-se traduzir por transtorno compulsivo, daí chamar-se transtorno de compulsão alimentar ou transtorno do jogo compulsivo.

Como surge um comportamento compulsivo?

Binge é a manifestação de um ciclo vicioso: pode surgir porque algumas pessoas têm dificuldade em lidar com emoções negativas, ou sentimentos intensos de qualquer tipo, e para tentar bloqueá-los embarcam em compulsões como forma de “gerir” ou aliviar o mal-estar.

Após os comportamentos compulsivos, podem sentir um certo alívio, mas vão sentir culpa, mal-estar e depressão a curto-prazo. Estes sentimentos negativos diminuem ainda mais a autoestima, agravando o peso das preocupações, o que provoca o início do ciclo.

Os sentimentos negativos podem resultar de stresse acumulado, falhas nos relacionamentos interpessoais ou falta de experiências positivas na vida. O despoletar de compulsões pode surgir após uma experiência traumatizante ou um período muito stressante.

Tipos de personalidades mais propensos a comportamentos compulsivos

A personalidade obsessiva e borderline predispõe para mais comportamentos compulsivos. Depois existem traços de personalidade, como a impulsividade e a negatividade, que aumentam a probabilidade destes comportamentos.

Fatores genéticos, ambientais, situacionais e pessoais também podem estar envolvidos: pessoas sujeitas a mais stresse e com pouco tempo ou disponibilidade para experienciarem prazer na vida, que experienciam mais emoções negativas e com dificuldade de as gerir com formas construtivas, ou com poucas ou nenhumas relações pessoais satisfatórias, estão mais vulneráveis a compulsões.

Pessoas deprimidas ou com humor negativo podem encontrar facilmente nas compulsões um alívio, ou um certo bem-estar curto, mas que se arrependem logo após a compulsão.

Comportamentos que denunciam transtorno compulsivo

De forma geral, quando o comportamento é manifestamente excessivo devido a uma grande pressão interior para satisfazer esse desejo, que gera um prazer mais imediato, mas culpa e mal-estar a curto prazo. Por exemplo, culpa pela enorme quantidade de comida ingerida ou tristeza e ansiedade por ficar sem poupanças devido a compras desnecessárias.

Quando se abdica de outras coisas importantes, como estar com família e amigos, se perde horas de trabalho ou de sono, ou deixa de prestar atenção aos filhos; quando a vida passa a funcionar em redor da compulsão ou se organiza a vida em redor dela e não tem outras formas de obter prazer; quando sente que a compulsão é irresistível e parece fora de controle.

Porque queremos ter tudo no imediato? Já não sabemos esperar?

A tecnologia permite obter gratificação ou recompensa imediata, o que permite criar esta habituação ou condicionamento, que pode ser agravado pelo ritmo de vida acelerado atual, em que o tempo é visto como precioso.

Os estímulos que podem desencadear compulsões podem ser de acesso muito fácil e instantâneo, basta ligar a televisão ou ir ao centro comercial. Podemos estar a ativar o circuito cerebral da recompensa, em que associamos um estímulo (bebida, sexo, filmes) ao prazer e bem-estar, levando à libertação de neurotransmissores do prazer.

Mas se se repete esta associação, a pressão é cada vez mais frequente (porque a dopamina vai-se esgotar) para ter esse estímulo, que leva à sensação de prazer.

Como resolver o problema?

Reconhecer os comportamentos excessivos, a sua intensidade e duração, bem como o prejuízo e sofrimento que estão a causar na vida é importante para procurar ajuda especializada, nomeadamente a psicologia do comportamento compulsivo.

É importante procurar formas construtivas e saudáveis de viver emoções positivas, tentar desenvolver boas relações interpessoais e aprender a relaxar, gerindo bem o stresse, procurar ambiente positivos, como o contato com a natureza, praticar desporto ou fazer parte de grupos, em vez do hábito de ir ao centro comercial ou ao bar.

Quando procurar ajuda?

Quando não se consegue melhorar por si próprio ao fim de alguns meses e percebe que está num ciclo vicioso, que as compulsões parecem fora de controle.

Caso as pessoas à volta alertem e comentem sobre comportamentos excessivos ou quando nota que tem prejuízos consideráveis na vida familiar, ou profissional, devido ao tempo gasto com compulsões, perdas monetárias ou dívidas devido ao jogo ou compras; ou que evita comer com amigos, com medo de perder o controle do que come.

Nestes casos deve procurar um psicólogo que faça terapia cognitiva/comportamental e, no caso do comer/ beber compulsivo, a ajuda de um médico psiquiatra/nutricionista.

A compulsão tem tratamento?

Sim. Apesar de a adesão ser difícil em alguns casos, a terapia cognitiva demonstra ótimos resultados para superar compulsões ao ajudar a identificar e modificar padrões de pensamento que causam ansiedade, angústia ou comportamento compulsivo.

A pessoa aprende a reconhecer esses erros e a confrontar as compulsões, respondendo de novas maneiras. Depois, o terapeuta expõe gradualmente a pessoa às situações que desencadeiam as compulsões. Com o tempo, aprende-se a reagir de maneira diferente a esses gatilhos, levando a uma diminuição na frequência de compulsões e à intensidade das obsessões. 

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