Os momentos ‘a-ah’, aquelas iluminações de genialidade que surgem do nada (ou assim parece), têm fascinado cientistas, filósofos e procrastinadores profissionais ao longo dos tempos.
Mas será que o súbito clarão de insight é realmente um acaso, ou há um cocktail neuroquímico a cozinhar na nossa massa cinzenta?
O que diz a ciência
A neurociência tem-se debruçado sobre este fenómeno com um olhar clínico, e uma das descobertas mais empolgantes envolve as enigmáticas ondas gama. Estas são uma espécie de Ferraris da atividade cerebral: rápidas, poderosas e associadas a estados de hiperconexão neuronal.
Estudos mostram que, momentos antes de um insight ou um momento ‘a-ah’, há um pico de ondas gama no córtex temporal direito, como se o cérebro estivesse a encaixar um puzzle invisível.
Mas há mais! Investigações com neuroimagem sugerem que o nosso subconsciente anda a trabalhar nos bastidores muito antes do ‘a-ah’ brilhar.
O córtex pré-frontal (a zona da racionalidade) relaxa e a atividade migra para áreas mais associativas, criando um ambiente propício para ligações inesperadas entre ideias aparentemente desconexas. Ou seja, basicamente o teu cérebro está a fazer brainstorming sem te pedir permissão.

Outro fator crucial para o insight é o estado mental. Sabes quando tens uma grande ideia no banho, a passear ou antes de adormecer? Isso acontece porque estados de relaxamento aumentam a atividade no modo default do cérebro, uma espécie de piloto automático criativo. O stress e a atenção extrema, por outro lado, podem matar insights antes de nascerem.
Estratégias para estimular o cérebro
E o que podemos fazer para ter mais ‘a-has’? A ciência sugere algumas estratégias: momentos de ócio (sim, sonhar acordado é produtivo), exposição a experiências novas e até meditação. Além disso, um bom equilíbrio entre foco e descontração parece ser a chave para manter a criatividade a fluir.
Portanto, da próxima vez que sentires que a ideia genial está a fugir, talvez seja melhor guardar o telemóvel no bolso e ires dar um passeio. O teu cérebro trata do resto.
Eduardo Marino, psicoterapia, terapia de casais
eduardomarino.psicoterapia@gmail.com